Para líderes religiosos, Censo apresenta falhas na classificação das religiões
Os dados mais recentes do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a religião no país têm sido questionados por várias lideranças. O pastor luterano Walter Altmann, moderador do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), analisou os números divulgados, mas disse que o IBGE “acerta no atacado, mas erra no varejo”.
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Durante o programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, de Porto Alegre, ele debateu o assunto com uma mesa de convidados que analisava o crescimento dos evangélicos. Altmann reclamou que o IBGE não entende as diferenças denominacionais e corre o risco de errar ao colocar grupos religiosos como seitas misturados aos dados de cristãos e que tem critérios não teológico para diferenciar os grupos.
Altmann afirma que o Brasil continua sendo um país extremamente religioso e que esses movimentos que o Censo aponta, revelam que há uma migração constante dentro das próprias denominações cristãs e isso é difícil de ser percebido, pois os evangélicos não são um grupo homogêneo.
Segundo ele, o processo de pesquisa do Censo considerou apenas três grandes grupos de evangélicos: os de missão, os de origem pentecostal e os não determinados. Dentre os 42,2 milhões de evangélicos brasileiros, 9,2 milhões seriam “indeterminados”, uma classificação que nem o IBGE consegue definir com precisão. Estariam incluídos aí correntes de luteranos, metodistas, presbiterianos, batistas e neopentecostais.
Por isso, fica difícil fazer uma análise mais aprofundada e a questão da diminuição do número de católicos e o crescimento dos “sem religião” acabam sendo exagerados.
O padre Irineu Rabuske, também presente no debate, afirmou que os dados mais recentes divulgados pelo IBGE não surpreenderam a Igreja Católica. Afinal, desde o primeiro processo censitário brasileiro, datado de 1872, vê seu número de fiéis diminuir.
Porém, Rabuske lembra que no século XIX ser católico era algo compulsório, pois a Igreja Católica era praticamente a única denominação cristã do país. Além disso, muitos hoje seriam frequentadores ao mesmo tempo de missas católicas e cultos evangélicos, por conta da crise doutrinária que a igreja romana atravessa e a aproximação de algumas de suas alas com os movimentos neopentecostais.
Eliezer Morais, pastor da Assembleia de Deus de Porto Alegre, explicou o que leva sua denominação a ter um dos maiores índices de crescimento do país. “Proclamamos o que herdamos da Reforma – a salvação somente pela graça, fé e escrituras – não clericalizamos a liturgia, trabalhamos com simplicidade, envolvidos com a realidade do povo brasileiro e fazemos com que os fiéis leiam a Bíblia”, explicou.
O advogado e jornalista Milton Rubens Medran Moreira, representando o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, afirmou durante o debate que o espiritismo está para o item das religiões do Censo como Pilatos entrou para o Credo Apostólico. Ele lembra que, para os espíritas, o espiritismo não é uma religião, mas sim uma filosofia. Sendo assim, a questão que se apresenta é sobre qual a análise correta: considerar seus adeptos pessoas “sem religião” ou pertencentes a outras denominações aos mesmo tempo? Contando com cerca de 3,8 milhões de seguidores, o Brasil é considerado o país mais espírita do mundo.
Um dos motivos do debate no Rio Grande do Sul é que o Estado apresenta contrates curiosos. O município de Arroio do Padre tem 2,7 mil habitantes e está nos extremos de dois levantamentos. Tem 85,8% de moradores evangélicos, maior índice do País, e 7,8% de católicos, menor índice do País. Mas não é só. Dos dez municípios brasileiros com maior índice de católicos em suas populações residentes, nove estão no Rio Grande do Sul. Dos dez que têm maiores porcentuais de evangélicos, sete são gaúchos.
O estado sulista abriga os municípios que têm os maiores porcentuais do País de seguidores de religiões africanas, como umbanda e candomblé. Todos os dez municípios com maiores índices de seguidores dessas correntes estão em território gaúcho. O líder é Cidreira, no litoral, com 5,9% dos 12,6 mil habitantes se dizendo adeptos dos cultos de origem africana. Outro dado curioso do Estado foi detectado no Chuí, na fronteira com o Uruguai, onde 54,2% dos moradores se declaram sem religião.
Para o sociólogo Ricardo Mariano, professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC/RS, há uma explicação: “Aqui o sincretismo hierárquico, dominado pelo catolicismo, também existiu, mas não foi tão duradouro como na Bahia”.
O alto índice dos “sem religião” de Chuí seria por que se localiza ”na linha de fronteira, a cidade pode ter sido influenciada pelo Uruguai, um dos países mais laicos do planeta”, supõe Mariano.
Com informações de Rádio Gaúcha e Estadão
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